*nota pessoal de 28 de novembro de 2021
Uma das minhas personagens favoritas da Bíblia é Sara. Não preciso nem explicar o porquê…
Feminilidade, mulheres na História da Igreja, temas voltados à vida cristã feminina estiveram bastante presentes nas minhas leituras deste ano. Não foi exatamente proposital, não tenho nada planejado para abordar o assunto, eu só estou mais interessada nele nos últimos tempos.
Bom, o livro que estou lendo atualmente é “Doze mulheres extraordinariamente comuns” de John MacArthur, e a segunda mulher da Bíblia que ele aborda é ela, a matriarca. E cada vez mais eu noto como eu sempre fui uma grande advogada de Sara, e todo o seu desenvolvimento analisado pelo autor só endossa meus argumentos em favor dela.
Eu sei, pareço uma menina nerd defendendo sua heroína favorita.
Mas eu realmente gosto do toque de humor Divino ao escolher uma mulher como ela para iniciar o cumprimento de Sua promessa feita a Eva, de que sua Semente esmagaria a cabeça da serpente. Diferente de Débora, Rute, Ester, entre outras, Sara não me parecia bem resolvida consigo mesma. O autor até mesmo cita seus repentinos ataques de raiva e a possibilidade de ela ter sido mimada devido à sua beleza.
Um dos episódios que mais me incomodam na história de Sara (existem vários) como sua defensora militante é seu riso debochado ao ouvir do próprio Deus que ela engravidaria, mesmo tendo cerca de noventa anos.
Eu consigo me identificar, quanto mais irritada e frustrada eu estou mais eu uso o deboche e o sarcasmo como mecanismo de defesa. Minha amiga do trabalho diz que a Sara (eu) debochada é a Sara favorita dela, porque eu falo tudo o que quero em tom de piada. Para as outras pessoas deve ser insuportável, e voltando à Sara da Bíblia ela ter soltado uma risada discreta demonstrava sua falta de fé, a ignorância quanto à seriedade da promessa que o Deus Todo-Poderoso havia feito a seu esposo e à ela, e o desconhecimento de Quem é o Deus dos deuses que ela adorava outrora.
O autor tenta contornar a situação referindo ao riso de Sara como um riso de alegria e surpresa. Mas o medo demonstrado logo depois de ser questionada me parece provar o oposto. E eu me sentia muito contrariada porque não tinha como defendê-la nesta situação. Descrente na palavra de Deus, como eu a defenderia!?
No entanto, ela não fingiu acreditar apenas para simular uma grande fé. Eram setenta ou mais anos esperando por algum sintoma de gravidez. Enfrentou vergonha e desprezo. Ela se sentiu sozinha e responsável pela infelicidade de seu marido por todos estes anos. Externamente eu talvez tivesse agido diferente de Sara, mas internamente, não sei se poderia me orgulhar em cima de seu comportamento inadequado.
“Mas o Senhor disse a Abraão: “Por que Sara riu e disse: ‘Poderei realmente dar à luz, agora que sou idosa?’ Existe alguma coisa impossível para o Senhor? Na primavera voltarei a você, e Sara terá um filho”.
Sara teve medo, e por isso mentiu: “Eu não ri”.
Mas ele disse: “Não negue, você riu”.” Gênesis 18:13-15
Seu riso desencadeou o questionamento de Deus quanto a sua postura (a Bíblia explicita que era o próprio falando), e de seu coração. E ela teve medo.
O que a trouxe até aquele exato momento se não a fé. O que a fez dedicada e submissa a Abraão (1 Pedro 3:5, 6), que a entregou a um rei sendo casado com ela, por falta de coragem e sem entender que Deus os protegeria, se não a fé. Fé naquele que prometeu e fé de que Ele continuaria a transformar seu marido.
“Pela fé Abraão—e também a própria Sara, apesar de estéril e avançada em idade—recebeu poder para gerar um filho, porque considerou fiel aquele que lhe havia feito a promessa.” Hebreus 11:11
Ela acabou mentindo, insistindo em errar, só que agora com um pecado diferente. Mas sua má atitude também abriu espaço para que ela fosse confrontada. Além disso, a Palavra de Deus foi finalmente ouvida por Sara direto da Fonte. Assim como Abraão, ela agora estava ciente da promessa.
A segunda coisa difícil de lidar na história de Sara é sua crueldade com Hagar e Ismael, a primeira vez quando ele ainda estava na barriga e a segunda quando ele era um adolescente. Afinal, foi Sara mesmo que procurou aquilo dando a ideia de entregar sua serva para seu marido. E mesmo que não tivesse sido, o que Hagar, e depois Ismael, fez não justifica o seu comportamento.
A verdade é que se houve uma falha latente em Abraão após encontrar o Senhor e abandonar a idolatria, essa falha foi como esposo de Sara. A vida dela como sua mulher foi um tanto diferente. Ela entregou uma vez sua serva a Abraão, mas foi entregue duas vezes a dois homens estranhos em momentos diferentes. E a coisa que eu mais amo nessa parte da história é o cuidado de Deus com ela.
O Senhor guardou Sara quando Abraão negligenciou seu papel. Quando ela foi entregue a Abimeleque, e depois resgatada, o zelo de Deus por Sua promessa contou para que ninguém duvidasse que o filho era de Abraão. Mas quando ela foi entregue ao faraó anos antes, não havia este ponto. Seu zelo foi pela própria Sara.
Como eu aprendo que Deus é a minha segurança com a vida da matriarca. Ele é um Pai presente e protetor quando mais ninguém pode (ou se importa em) te guardar. Agarre-se a essa verdade quando se sentir sozinha e sem defesa. Ele está com você, sempre. Ele cuida e sente ciúmes de você. Não um ciúme que constrange, mas um zelo que guarda e te esconde.
É verdade que em um mundo caído e pecaminoso coisas ruins acontecem. Mas nada escapa de Seu olhar e a Sua justiça nunca falhará. Ele se importa e te abraça no seu momento mais escuro.
Eu mesma vivi situações em que Deus interveio e eu nem mesmo entendi como, mas no final tive certeza que era Sua graça me guardando. Eu me lembro de amadurecer fazendo sempre uma oração específica toda vez que alguém se aproximava de mim, e essa era: “Pai, me dê uma prova do caráter deste rapaz”. Uma vez, talvez das que eu estava mais apaixonada, semanas depois de fazer essa oração o menino saiu da igreja e se desviou completamente! Eu fiquei assustada do quão brusca foi a mudança da imagem que tinha dele.
Em uma outra vez, eu vi o rapaz (que parecia ter absolutamente todas as qualidades que eu gostaria) passeando no shopping com outra moça. Eu fiquei desanimada, porque afinal ele já estava com ela, mas nós não tínhamos nada e a situação em si não seria um problema com o caráter dele. Mas o que demonstrou que ele de fato não era para mim foi que quando me viu, tentou disfarçar que estava com a menina. Se ele fez isso com ela, por que faria diferente comigo?
Esses são dois dos exemplos que tenho mais simples de compartilhar que demonstram que Deus cuida de nós, de nossos corações. Poderia citar alguns outros, entretanto todos meus livramentos deixariam o texto longo demais.
Mas voltando ao assunto “crueldade de Sara”, o autor do livro pontua algo que não havia pensado antes:
“Mas Deus lhe disse: “Não se perturbe por causa do menino e da escrava. Atenda a tudo o que Sara lhe pedir, porque será por meio de Isaque que a sua descendência há de ser considerada.” Gênesis 21:12
Por algum motivo a decisão acarretada pelo rompante de Sara foi aprovada por Deus. Mesmo que a maneira dela ter se portado seja um tanto intragável, a decisão certa seria afastar Isaque de Ismael. Talvez Deus tivesse permitido Sara presenciar a “brincadeira” de Ismael com seu filho porque sabia como a irritaria ver seu precioso bebê prometido sendo destratado, afinal ela era finalmente uma mãe. Deus sabia qual seria sua reação.
Mais um mistério de como o grande Autor usa nossas maiores falhas para exercer Sua soberana vontade.
Isso me lembra de algumas atitudes minhas que ainda me torturam só de lembrar. “E se eu não tivesse agido assim”. “E se eu tivesse sido menos exigente”. “E se eu tivesse sido menos mimada”. “E se eu não tivesse dito isso”. “E se eu tivesse aceitado aquilo”. “E se…”
Nunca saberemos, não é mesmo?
O que eu sei é que Deus é maravilhoso em usar a história de uma mulher comum como Sara de exemplo para nós e acima de tudo, tornar ela uma história sobre Jesus.
“Digam-me vocês, os que querem estar debaixo da Lei: Acaso vocês não ouvem a Lei? Pois está escrito que Abraão teve dois filhos, um da escrava e outro da livre. O filho da escrava nasceu de modo natural, mas o filho da livre nasceu mediante promessa.
Isso é usado aqui como ilustração; estas mulheres representam duas alianças. Uma aliança procede do monte Sinai e gera filhos para a escravidão: esta é Hagar. Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com os seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre e é a nossa mãe. Pois está escrito:
“Regozije-se, ó estéril,
você que nunca teve um filho;
grite de alegria,
você que nunca esteve em trabalho de parto;
porque mais são os filhos da mulher abandonada
do que os daquela que tem marido”.
Vocês, irmãos, são filhos da promessa, como Isaque. Naquele tempo, o filho nascido de modo natural perseguiu o filho nascido segundo o Espírito. O mesmo acontece agora. Mas o que diz a Escritura? “Mande embora a escrava e o seu filho, porque o filho da escrava jamais será herdeiro com o filho da livre”. Portanto, irmãos, não somos filhos da escrava, mas da livre.” Gálatas 4:21-31
Ele é Soberano sobre nossas singelas narrativas contemporâneas cheia de altos e baixos, rotina entediante, riso e choro, decisões certas, e decisões erradas. Qual seria o melhor fundamento para as nossas vidas do que as palavras que Ele diz?
“Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram contra aquela casa, e ela não caiu, porque tinha seus alicerces na rocha.” Mateus 7:24, 25
S. x
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