Algo que tem estado no meu coração ultimamente, que eu tenho meditado sobre, é como o meu relacionamento com Deus mudou nos últimos anos. Antes eu gastava tempo orando sobre coisas corriqueiras e lendo a Bíblia de maneira devocional, aplicando sempre ao meu cotidiano, procurando formas de praticar o que estava lendo e fazer a vontade de Deus.
Em algum momento isso mudou, eu passei a dedicar o meu tempo a estudar a Palavra, desdobramentos históricos do cristianismo, e doutrina. Eu gosto da ideia de me aprofundar na teologia, mas não é a mesma coisa.
“Obedeça aos meus mandamentos,
e você terá vida;
guarde os meus ensinos
como a menina dos seus olhos.
Amarre-os aos dedos;
escreva-os na tábua do seu coração.”
Provérbios 7: 2, 3 (destaques meus — imperativos)
Até a forma como escrevo mudou. Antes os textos que escrevia vinham em regra a partir de revelação, insights que eu tinha ao ler a minha Bíblia, hoje eu passo horas pesquisando. Tenho tentado encontrar um equilíbrio, publicando textos escritos de uma vez, como fazia antes.
A verdade é que o tempo gasto para Deus tem roubado o meu tempo com Ele, afinal sempre falta alguma aula, algum artigo para ler, algum texto que precisa ser revisado de novo, etc. E eu entendo o perigo disso, e tenho tentado estar consciente quanto aos impactos que a falta de devoção pode trazer.
“Criamos homens sem peito e esperamos deles a virtude e a iniciativa.” A abolição do homem, C. S. Lewis
Uma fé sem bases no coração. Você pode compreender algo sem decorar, sem tê-lo escrito nas tábuas do seu coração. A idolatria do conhecimento é tão maléfica quanto qualquer outra. Especialmente se a sua vocação não é a teologia acadêmica, tentar entender absolutamente tudo como os teólogos sabem é correr atrás do vento.
“todo conhecimento, que esteja além do conhecimento sobre como amar a Deus e servir unicamente a ele não é nada senão vaidade de vaidades e aflição de espírito (Ec 1.2 e 17)” Lewis Bayly (Inteligência Humilhada, Jonas Madureira)
Sou completamente a favor do estudo bíblico, mas existe uma maneira saudável e harmônica para se fazer isso. Dosar seu tempo de dedicação é fundamental.
Eu creio que sem revelação não há teologia. De alguma forma todo estudo se esvai sem o Espírito quando se trata da Palavra de Deus. Conheço uma pessoa que era referência para um certo grupo, e em uma palavra que deu citou diversos versículos. Eu fiquei muito confusa porque as referências não batiam, e a pessoa falava com muita convicção. Não me lembro exatamente quais textos foram, mas basicamente Paulo voltou no tempo para escrever os salmos que eram para ser davídicos.
Apesar de todo estudo que pudesse ter, ainda seria muito pouco se a Palavra que insistiu em citar não estivesse escondida em seu peito, influenciando a maneira como agia e se comportava.
“Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti.” Salmo 119:11 (destaque meu — consequência prática)
Batemos no peito para negar que somos cristãos liberais, mas não cremos mais em milagres. Afirmamos crer na infalibilidade da Bíblia, mas relativizamos tudo que podemos. Dizemos estar perto da Verdade absoluta procurando por dizeres de homens antigos, só porque são antigos, e esquecendo-nos que estamos com a própria em mãos. Dizemos ser convertidos mas ainda não entendemos que devemos nos converter todos os dias.
A única explicação que acho é que nos falta revelação. E que o Senhor nos livre, que Ele me livre da incoerência.
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